terça-feira, 30 de setembro de 2014

sem título

nunca tive jeito para fazer primaveras
a não ser em origami.

mas um outono desfolha os corpos como despe árvores
e acorda todos os poetas do mundo
quando a chuva cai lá fora
e a respiração embacia os vidros das janelas por dentro.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

imersão

inspirei a luz da madrugada
no primeiro cigarro
e a névoa doce fez-me
crescer no dorso as asas negras
de um nefilim que nunca existiu
por desconhecer a alma e a substância
do chão do ar e não saber das gotas
pulverizadas pelas ondas do mar

agarrei fechada a mão
duas insistentes pedras e não vim mais à superfície
da respiração
apneia permanente permanente fluido.