sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

sem título

e então
na luz clara da manhã
deitada a meu lado
abriu os olhos
e disse-me

"a tua inteligência emocional é um 10.


na escala de richter."

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

potencial gravítica

do abismo a espera lenta e a vertigem
de quem se equilibra de pé no limiar do precipício

da paisagem
resta apenas o coração na boca.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

sem título

palavras arrancadas ao sopé da montanha
sujas da lama dos dias de chuva
queimadas do raio solar perpendicular
leves como nuvens
flores
pesadas como chumbo
consciências


são as que contam


do papel cheio de palavras desprovidas de massa
só conta a gramagem.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

sem título

todos os dias a noite me cobre
de uma película que agarra as estórias à minha pele
e respira como respiram as presas
na mandíbula dos predadores

e as notas soltas do bater das asas de uma ave
sincronizam-se no peito que guarda os últimos fôlegos
de quem morre sem nunca se dar por vencido.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

superfície e aparente paradoxo

ao contrário do que denunciam as superfícies,
a violência sobre o seixo macio
foi muito mais intensa e prolongada
do que sobre o rude e áspero clasto.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

sem título

nada é pior que uma fera
ferida por um cão.

a ferocidade vem sempre ao de cima
da fidelidade numa solução.
como a verdade.

a voragem é sempre humilhada
na sujeição.

nada é pior do que um uivo
de perda à lua nova
a não ser a fera perdida
no deserto do abandono
que é mais árido do que a rima
de perecer com falecer.

e nada, contudo é mais tudo
que não saber para onde ir.
ainda que brilhe o luar.

o mais estranho dos verbos
é não saber para onde ir depois de ter vindo de outro lugar.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

sem título

tudo era um sonho, ainda difuso, quando o ar da manhã entrou no quarto após ter pensado em tomar um café mas ter-me limitado a abrir a janela. não há corpos habituais nos meus lençóis nem odor na casa que é minha apesar de nada ter meu. a falta que me fazes hoje era-me absolutamente desconhecida ontem.
um naufrágio durante a noite desgrenhara-me até à alma. 
os raios do sol entravam ainda frescos pela janela aberta e o teu cabelo brilhava na cama mesmo ao meu lado. a realidade era afinal o sonho e eu não fui tomar café. 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

sem título

da fugacidade do presente
tememos do passado a noite
da morte o futuro
nascemos já inúteis
habitamos na morte a eternidade
de que não dispomos

viver o desejo do que não temos

desejo de não viver

não são anseios diferentes.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

sem título

da passagem do tempo 
uma janela cujo vidro se suja
sem limpeza possível
será um espelho.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

quinta-feira, 14 de maio de 2015

sem título

o gosto ácido dos teus lábios
é a alma que lateja
no beijo húmido do teu interior
que condena o diafragma
a trabalhos forçados
inflama a pele estelar de calor

quinta-feira, 7 de maio de 2015

sem título

pertenço àquelas alcateias
que uivam às estrelas cadentes.
sou um dos estilhaços
das constelações humanas
expulsas do universo.

há sempre lugar para nós.

à falta de um planeta habitável
nas proximidades do tempo disponível,
haverá  um cometa
a parar na estação sem hora marcada.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

sem título

caminhaste-me 

na pele uma vereda
na alma a lama
moldados sulcos
pelo gume de uma lâmina

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

- sem título -

uma pluma incandescente
sobre a pele e um desejo de sempre
um tecido macio no interior 
do teu corpo 
saliva 
sangue
odor a corpo e alma
de carne e osso 
intacto apenas o espaço vazio 
da escuridão entre os corpos
um dedo molhado nos lábios 
e um gemido com a cara 
na superfície da parede fria

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

sem título

esculpir o dorso de um cavalo
nas palmas da mão de um verso 
escrito a tinta da chuva
que cai no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio
e dá horas incandescentes
ah heróis do tempo antes da palavra
que da massa das estrelas já faziam poesia.