sábado, 24 de junho de 2017

sem título

vou-me embora
não pra Pasárgada
mas de volta ao musgo
do silêncio
onde ainda se estendem os meus rizomas
serenos
alheios ao oxigénio
da multidão.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

R.

escreve-me um poema
com voz grave
e língua tímida entre dentes miúdos.
no seu corpo um astro morto
acende-se de asas abertas e plumagem de chamas
palavras âmnio
nascidas na maternidade de estrelas
dos teus pulmões.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

sem título

quarenta mil quilómetros pelo meridiano
uma revolução completa
das auroras boreais não podes dizer que não existem
mas resta-te pequena uma memória incerta
como do tempo em que os animais falavam
uma volta intacta com dois equadores pelo meio,
quatro trópicos, 
e nem um achado arqueológico sobre o medo
ou tratado sobre a lama

só a fuligem de enxofre dos vulcões te recorda o que vieste fazer ao mundo.

eis a tarefa dos mortais. cuspir como a terra as entranhas e deixar que o vento espalhe as cinzas.

quinta-feira, 23 de março de 2017

sem título

o meu gato preto
o lua-cheia
à meia-noite acende-se
azul como o dorso de uma alcateia
de corvos no cio.

quarta-feira, 22 de março de 2017

sem título

a tua voz
incandescente libertou em lava
o meu nome
que ao arrefecer
no meu peito em vez de basalto
fez um coração.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

sem título

há coisas que nunca mudam
os teus olhos
a tua voz
as tuas mãos em concha
dentro do meu peito
berço que acende o meu coração

vês essa incandescência se apagares as luzes em volta.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016