serei sempre o lado escuro
do meu desejo puro,
a face negra de uma libertação que imagino
uma emancipação límpida.
serei sempre aquém.
aqui e além, uma serpente virá mostrar-me o caminho,
morderei o pecado, sentir-lhe-ei o aroma doce de perfeição.
e da virtude sinto apenas os contornos longínquos.
coragem não é saber o caminho, é percorrê-lo.
por isso mesmo,
vertigem é o que me atinge
ao debruçar-me sobre o abismo escuro
por onde os ecos das almas alheias ondulam,
vertigem é o que me atinge
ao precipitar do cume da alta falésia o olhar
em busca do fim, do sopé, das ondas do mar,
enquanto ouço os dias sussurarem amor no meu ouvido,
pulsar um coração, em batidas longas,
vejo como tudo é luz quando os olhos se abrem,
que a escuridão é uma opção
que algures, enquanto decifrava um desses murmúrios do tempo,
um dia qualquer, decidi tomar.