quarta-feira, 30 de outubro de 2013

sem título

às vezes surge-nos uma fixação estética pela morte 
uma espécie de vórtice negro que puxa a pele dos poetas,

isso é razoável, a arte e a morte são os desígnios finais da humanidade,
um por desejo, outro por força da circunstância.

sem título

haja rios torrentes e folhas ao vento
caindo do outono vermelhas
e frio por dentro das almas
como ramos despidos de árvores
de braços estendidos.

são retratos de impressões dos tempos
que se tornam ecos
como outonos são passado no inverno
no verão futuro.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

aquém


serei sempre o lado escuro
do meu desejo puro,
a face negra de uma libertação que imagino
uma emancipação límpida.

serei sempre aquém.

aqui e além, uma serpente virá mostrar-me o caminho,
morderei o pecado, sentir-lhe-ei o aroma doce de perfeição.
e da virtude sinto apenas os contornos longínquos.

coragem não é saber o caminho, é percorrê-lo.
por isso mesmo,

serei sempre aquém.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

vertigem

vertigem é o que me atinge
ao debruçar-me sobre o abismo escuro
por onde os ecos das almas alheias ondulam,
vertigem é o que me atinge
ao precipitar do cume da alta falésia o olhar
em busca do fim, do sopé, das ondas do mar,

e ver nada mais que afinal uma delicada neblina.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

sem título

enquanto ouço os dias sussurarem amor no meu ouvido,
pulsar um coração, em batidas longas,
vejo como tudo é luz quando os olhos se abrem,
que a escuridão é uma opção
que algures, enquanto decifrava um desses murmúrios do tempo,
um dia qualquer, decidi tomar.

terça-feira, 11 de junho de 2013

- sem título -

apagaram-se as luzes na casa
que habitamos,
e tropeçamos nos corpos perdidos
que vagueiam. 

que vagueamos. 

os corpos que vagueamos.


antes a sombra

serei a sombra de um lobo,
se não puder lançá-la sobre o prado, 
mas antes a sombra de um lobo que 
no prado lançar a de um cordeiro.